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Memórias da Varanda

sexta-feira, 23 outubro, 2009 @ 1:40 pm

Celso Lazzari - Foto © Iris Pacheco Você sabe que o MaraCatu foi construído por nós, de forma amadora, junto com um grupo autodenominado Sindicato Ajuricaba. Foram construídos seis barcos Samoa 29’ e dois Cabo Horn 35’. Para os Samoas fizemos uma forma que, depois de laminar os cascos dos ajuricabenses, alugamos para um grupo de outras seis pessoas. Dentre elas estava o Celso Lazzari que, junto com mais dois, ergueu um barracão ao lado do nosso e construiu o seu Piratan.

Com o barco pronto, a idéia de Celso era dar a volta ao mundo e depois escrever um livro. Não deu, Sarney e Collor (lembra deles?) acabaram com os seus projetos e também com os de muita gente.

Aí Celso ficou numa encruzilhada. E agora? O que fazer? Já tinha plantado uma árvore, construído uma casa e um barco e só faltava escrever o livro. Mas como escrever um livro se não deu a volta ao mundo? Foi quando se perguntou: será que realmente é necessário dar a volta ao mundo para escrever um livro náutico? Claro que não. Assim nasceu Memórias da Varanda, um livro escrito por quem nunca deu a volta ao mundo, mas tem muitas histórias para contar nestes quarenta e tantos anos de mar.

O livro, que está indo para o prelo, tem muitos “causos” curiosos e engraçados. Os personagens têm os nomes trocados, mas quem conhecer as figurinhas citadas vai identificar de chofre, quer um exemplo?

Ronaldo (de óculos) e Webber - Foto © Hugo Nunes “… era uma pessoa alegre, culta e bem humorada, onde ele estava, logo se formava um grupo em sua volta. Parecia que tinha um imã para atrair pessoas, gostava de fotografias e também de cerveja. Alguns amigos chegaram até a sugerir para que ele colocasse um reboque atrás do seu barco, que poderia ser uma plataforma, de balsa para ficar bem leve, só para transportar mais latinhas. Uma ocasião, em um encontro da ABVC, para quem não conhece, leia Associação Brasileira dos Velejadores de Cruzeiro, que, animada como sempre, me chega aquela figura, sorridente, com um ar de garoto levado e, sem mais nem menos, me faz um convite indecente… E o  caso vai por aí a fora, terminando comigo empolgado, falando a um público razoável sobre uma cagada náutica da qual eu tinha sido protagonista. Se eu não refreasse minha empolgação, com certeza teria ganho o prêmio A Cagada Náutica do Ano, que era um cocô de plástico”.

Para quem não conhece o herói ficam as estórias, todas verídicas, e sempre com algo relacionado com o nosso mundinho náutico. Vez por outra vou publicar trechos do Memórias da Varanda, com este abaixo.

Passeamos até a praia Lopes Mendes, fizemos amizade com pessoas de outros barcos e no dia seguinte, de manhã cedo, assim que acordou ele já estava apavorado com o aniversário da mulher e, ansioso falou:

– Nós temos que ir embora senão eu não vou chegar no Rio a tempo para o aniversário da minha mulher.

Compreendendo sua angústia, tomamos o café da manhã e partimos com destino a Bracuhy, onde deixaria o veleiro. Já navegávamos entre Freguesia de Sant’ana e Porto Galo quando ele disse uma frase no mínimo estranha para o local, tão estranha que não entendi o significado imediatamente e respondi o que me pareceu óbvio:

– Tô sentindo um cheiro de vela!

– Deve ser o cheiro do mofo no tecido, todo veleiro que fica fechado durante alguns dias acaba ficando com cheiro nas velas.

– Não é cheiro de vela de barco, estou sentindo cheiro de vela de cera, daquelas de igreja, de velório.

– Aqui no meio do canal nem que tivesse uma fábrica de velas no continente daria para sentir, deve ser o seu nariz que está inventando este cheiro para te lembrar de comprar as velinhas para o bolo de aniversário da tua mulher logo mais. Falei brincando.

Chegamos em Bracuhy por volta de uma hora da tarde e ele preocupado em ir embora, pois teria que pegar um ônibus para o Rio e ainda teria que andar da marina até a estrada, mais de dois quilômetros a pé e com bagagem.

Consegui uma carona com um amigo que estava indo para o Rio, porém só havia uma vaga no carro. Pedi ao amigo que o levasse, explicando-lhe a urgência do meu companheiro devido à festa de aniversário de sua esposa, motivo mais que suficiente para qualquer velejador ajudar ao próximo e eu, depois de arrumar o barco e almoçar conseguiria outra carona com certeza, com algum outro amigo, como aconteceu.

Quando cheguei em casa já passavam de onze horas da noite e, cansado, deixei para saber como tinha sido a sua viagem de volta no dia seguinte.

Na segunda-feira, já no final do expediente lembrei de ligar para o Gilson, porém o horário bancário já havia encerrado e ele não mais estaria no trabalho pois trabalhava na administração de um banco. Não quis ligar para a casa dele pois o flagrante da sua mulher na marina antes do embarque me colocava numa posição de cautela, só depois que conversasse com ele saberia como havia encarado o fato. Deixei para ligar na manhã seguinte.

No dia seguinte, pela manhã, antes que meus afazeres me absorverem totalmente e eu acabasse não lembrando, liguei para ele:

– Como foi a carona, foi legal?

– O pessoal que me trouxe foi muito legal, me deixaram na praia do Flamengo, eu fiquei tão preocupado com a hora que atravessei a rua sem olhar e quase fui atropelado

– Quando cheguei no prédio em que moro, fui passando pela portaria apressado e já abrindo a porta do elevador, perguntei ao porteiro se já tinha muita gente em minha casa, ao que ele respondeu que sim, a porta fechou e o elevador subiu. Encontrei a porta do apartamento aberta, a casa cheia de gente, fui entrando batendo palmas e cantando alto: PARABÉNS PRA VOCÊ, NESTA DATA QUERIDA!

Fazendo a maior média , falei rindo. E ele:

– Todo mundo me olhou com cara de espanto, eu não entendi nada, quando minha mulher veio chorando em minha direção, se jogou nos meus braços sem conseguir falar de tanto que chorava.

Já sei, ela pensou que você tinha morrido em um naufrágio, tentei adivinhar.

– Não foi nada disso, o irmão dela, que mora no andar de baixo do mesmo prédio que nós, teve um enfarto e havia morrido no sábado.

Lembrei imediatamente do cheiro de vela que ele havia sentido em pleno mar. Cruz Credo!…

15 Comentários leave one →
  1. miroca permalink
    sexta-feira, 23 outubro, 2009 @ 8:23 pm 8:23 pm

    Helio cada vez mais acho vc um autor e tanto, aliás, vc demorou para escrever né não? Fazia 2 dias que não atualizava o blog. Isso está me cheirando desleixo né não????????
    hehehehehehehehehe
    Me avise qdo for lançado o livro, pelo que li vou adorar!!!!!!!
    mara bjs helio bjs
    miriam

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    • quinta-feira, 29 outubro, 2009 @ 11:42 am 11:42 am

      Miroca,

      Grato pelas palavras, mas os louros vão para o Celso. Aviso por aqui quando o livro sair, pode deixar.
      Vixe Maria, fiquei um diazinho sem aparecer e você já sente falta? Não sou desleixado, disléxico, talvez.

      Um cheiro,

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    • João Luis Haas permalink
      quarta-feira, 31 março, 2010 @ 9:35 am 9:35 am

      Parabens Mara ´pelo Niver.
      Olha que eu conto tb algun CAUSOS do Celso,ele é um craque.Pergunte à ele das suas manobras em Búzios para abastecimento
      (Costa-Leste ).
      E quando Celso vai pegar àgua no Sitio Forte a praia inteira se envolve!!!!!!!!!!!!sempre uma Cagada.
      Celso convidado pelo Baiano para levar o barco para Angra,pergunta se pode levar outro amigo,mas avisa que é bicha mas muito discreto,gosta mt de cozinhar.No meio da viajem não deu outra tava o baiano bêbado passando a mão,e ahí a coisa FEDEU……………..

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      • quinta-feira, 1 abril, 2010 @ 1:24 pm 1:24 pm

        João,

        Se foi durante o Costa Leste de 2008, eu ví. Inclusive lhe ajudei a resgatar o Pamar quando este soltou a âncora.
        O bicha discreto que gosta de cozinhar foi você? Ahahah! Mas isso não é novidade.
        Agora, a novidade é que o livro foi lançado, inclusive com sub-titúlo: Memória da Varanda ou Aventuras de Navegadores de Curto Curso. Você pode encomendar o seu na Dinformar.
        Bons ventos sempre,

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  2. ivanperdigao permalink
    quinta-feira, 29 outubro, 2009 @ 10:19 pm 10:19 pm

    Olá seu Helio, meu blogueiro favorito, uma correçãozinha nesse post : o nome do barco do Celso é PIRATÃ , saiu com um “a” demais.
    Abraços

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    • sexta-feira, 30 outubro, 2009 @ 12:06 am 12:06 am

      Ivan, meu leitor atento, já corrigi. Obrigado.
      Celso me alertou que o nome é Piratan.
      Abraços,

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  3. quarta-feira, 4 novembro, 2009 @ 12:44 pm 12:44 pm

    Sempre bom de ler… esquecer do transito paulistano um pouco… lembrar de me esforçar mais pra viver mais à deriva… ir pro mar

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    • segunda-feira, 9 novembro, 2009 @ 1:32 pm 1:32 pm

      Marcelo,
      Bem vindo a bordo. Espero que de certo o trabalho com as ilustrações.
      Bons ventos sempre,

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  4. Sergio Pamplona Pinto permalink
    quarta-feira, 30 dezembro, 2009 @ 3:23 pm 3:23 pm

    Para quem gosta, como eu, o asunto de mar é sempre muito interessante principalmente contado das varandas dos iates clubs e marinas. Pena que o noso amigo COCA não esteja mais conosco pra incrementar mais ainda o livro. Ele tinha estòris fntasticas sobre o mundo nàutico e seus prsonagens. Fico aqui aguardando ansioso o lançamnto do livro e, aproveito para parabenizar os autores por esta boa idèia.
    Um abraço
    Sergio Pamplona

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  5. celso lazzari permalink
    quarta-feira, 30 dezembro, 2009 @ 5:29 pm 5:29 pm

    Helio;
    Para alegria do Pamplona, no livro tem Coca à vontade, tem uma que abrange o Roskildes que ele vai adorar. Vou colocar no proximo conta-gotas

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  6. João Luis Haas permalink
    terça-feira, 5 janeiro, 2010 @ 1:57 pm 1:57 pm

    Celso lembra na Crena,quando vc por dureza,colocou garrafas Peti como defensas,e nós subtituimos por pequenas jacas? KKKKKKKKKKKKKKKK

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  7. domingo, 10 janeiro, 2010 @ 1:14 pm 1:14 pm

    Pamplona

    Bem vindo a bordo.
    Eu também sou fissurado por varada de iate clube. O lugar ideal pra tomar umas geladas, inventar umas mentiras e escutar os causos mais cabeludos. Você não perde por esperar, vão vir muitas estórias e histórias interessantes.

    Celsão

    Acabo de publicar o segundo conta-gotas com o causo do Roska, espero que goste da arrumação.

    João

    Defensas de jaca? Essa também quero saber em detalhes.
    Isso dá um conto, então conta essa história direito, tipo num estilo dramático:
    “… estávamos ancorados na Praia da Crena, na Ilha Grande, ao lado do Piratan, o recém lançado Samoa 29’ do antigo navegador Celsão, que por dureza ou avareza usava garrafas Pet como defensas. Pois não é que na calada da noite, sorrateiramente, …”

    Bons ventos a todos, sempre.

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  8. terça-feira, 23 março, 2010 @ 3:10 pm 3:10 pm

    Helio,

    Tenho interêsse no livro !

    abração para vc e Mara,

    Eduardo Schwery
    REGWELL – Paraty

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    • sexta-feira, 26 março, 2010 @ 12:08 am 12:08 am

      Eduardo,

      Você pode encomendar o Memórias da Varanda ou Aventuras de Navegadores de Curto Curso na Dinformar

      Bons ventos sempre,

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