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Um veleiro histórico revive no cerrado

domingo, 6 novembro, 2011 @ 11:48 pm

PousoCafeCultural

Em minhas viagens de férias – não ria! – sempre ando com um olho na estrada e com o outro procuro algo ligado ao mar. Pois na cidade de Pirenópolis, em pleno cerrado do Planalto Central, um lugar improvável para barcos, encontrei um veleirinho que ainda vai dar o que falar.

E não um veleirinho qualquer, mas sim o Vento Leste, um clássico de madeira de pouco mais de 19 pés (6,50 m), único remanescente dos três modelos Cruzeiro do Sul, construídos na década de 50 para competir com os barcos das classes Guanabara e Carioca. O Vento Leste foi construído no Saco de São Francisco, em Niterói, para José Carlos de Barros Neiva, pioneiro da indústria aeronáutica brasileira que produziu o Paulistinha, além do Monitor B, o “Neivão”, planador que ensinou toda uma geração de pilotos a voar.

IsocratesJunior Mara

Seu atual proprietário, o hoteleiro-marinheiro Isócrates Júnior, está fazendo uma pequena reforma no barquinho num galpão no quintal de sua pousada, o Pouso, Café e Cultura, onde passamos uma tarde agradável. O casarão de 1910, construído pelo seu bisavô, é uma mistura de centro cultural, com salas temáticas, e museu. Isócrates nos recebeu na Sala Ocidental e Mara mais parecia uma rainha sentada numa poltrona chinesa de campanha – uma verdadeira jóia de madeira, portátil, que fecha para ser transportada. Seu pai, Isócrates de Oliveira, foi diplomata (“serviu de João a João”, ou seja, de Goulart a Figueiredo), sempre acompanhado dos filhos em suas muitas viagens, daí estas peças exóticas. E olha que historia: também foi padre! Largou a batina quando achou o amor de sua vida em Sapucaí Mirim, nas Minas Gerais. Em 1954 escreveu um livro, Drama de um padre, que pelo teor fez com que a Igreja o tirasse de circulação ao comprar toda a edição.

O papo continuou regado a um cafezinho no restaurante, que dá para os jardins onde foram instalados os sete exclusivos chalés, todos tinindo de novos, que aparecem na foto que abre este post. Clica aí para ler mais.

IsocratesVentoLeste

Isócrates, aqui o júnior, é um engenheiro eletrônico viajado, seja de avião ou de moto; ficou um ano e meio como tripulante do Dária, um mega-iate de um xeique árabe que tinha até helicóptero; zanzou pela Tailândia, Malásia e Nigéria e até pegou umas térmicas em Tacima, no interior da Paraiba, “um dos melhores lugares para voar de asa delta”. Recentemente ele investiu um ano na restauração do seu clássico de madeira. Depois passou um tempo velejando pela represa de São José dos Campos e na Baía da Ilha Grande e Paraty. Isócrates me contou que Torben Grael se lembra do Vento Leste, que tem mastreação de ligtining e se parece muito, olha só, com o veleirinho que aparece na capa do disco Barquinho de Maysa.

MaysaBarquinhoAo fim da reforma, Isócrates vai navegar um pouco no Lago Paranoá e planeja uma viagem pelos rios da região, mas que ainda não tem roteiro definido. O destino, na verdade, pouco importa. “Importante mesmo é botar o Vente Leste de novo na água”. E água é o que não falta em Pirenópolis, principalmente na estação das chuvas, que vai de outubro a março. As serras que cortam o município, como a Dourada com seus 1838 metros, são um divisor de águas de duas das maiores bacias hidrográficas brasileiras: a Platina, ao Leste e Sul, e a Tocantinense, ao Oeste e Norte.

Então ou eles sobem pro norte pelos rios Maranhão, Araguaia e Tocantins e chegam a Belém, ou vão pro sul até Buenos Aires navegando pelos rios Corumbá, Paraíba, Corumbaíba, Paraná e a bacia do Prata. A ideia do projeto é valorizar a parte histórica do trajeto e a navegação interna, o que não será difícil para o Vento Leste que, com a bolina levantada, só precisa de 30 cm de água para boiar.

Infelizmente não ficamos no Pouso, Café e Cultura – meus filhos já haviam reservado e pago nossa hospedagem em Piri. Mas agora já temos um porto seguro quando voltarmos por lá. Felizmente Ivan mais Egle, do blog Pintandoosetti, me deram a dica. Valeu queridos.

13 Comentários leave one →
  1. sergio permalink
    segunda-feira, 7 novembro, 2011 @ 10:55 am 10:55 am

    Poxa Hélio ,que achado legal ! este Veleiro c/certesa vai entrar novamente para a Historia ,jamais pensariamos que neste local ia ter um Veleiro .valeu ! deu até p/ sentir um friozinho na barriga só em pensar em dar uma velejada nele..

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    • segunda-feira, 7 novembro, 2011 @ 1:51 pm 1:51 pm

      Sergio,

      Eu também quero velejar nesse clássico. A boa nova é que Isócrates vai aceitar tripulantes nas várias pernas da expedição. E eu já estou inscrito!

      Bons ventos sempre,

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  2. sexta-feira, 11 novembro, 2011 @ 5:07 pm 5:07 pm

    Que lindo clássico hein?!? Aquele tipo de achado que só se descobre estando lá. Então, viajemos!!! Abraço e bons ventos/)

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    • quarta-feira, 21 dezembro, 2011 @ 11:26 am 11:26 am

      Davi,

      Isso é o bom de zanzar por aí. Acabamos encontrando essas pérolas e essas figurinhas carimbadas como o Isócrates.

      Feliz tudo em 2012 e bons ventros sempre,

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  3. Enrique Sanchez permalink
    segunda-feira, 19 dezembro, 2011 @ 1:41 pm 1:41 pm

    Valeu Isócrates ! Parabéns pelas fantásticas histórias de sua família, logicamente incluindo a sua ! Abraço e desejo muito mais belas histórias!! Enrique Sanchez.

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    • quarta-feira, 21 dezembro, 2011 @ 11:27 am 11:27 am

      Enrique,

      Grato pela mensagem. Já encaminhei seu comentário para o Isócrates.
      Feliz tudo em 2012 e bons ventros sempre,

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    • quarta-feira, 21 dezembro, 2011 @ 7:17 pm 7:17 pm

      Grande Henrique, grato por sua gentileza !
      Em breve irei substanciar a reportagem do nobre Hélio, com fotos sobre os fatos.
      Um abraço de um ´´water logged sailor“

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  4. Maria Célia Gomes de freitas permalink
    sábado, 28 janeiro, 2012 @ 4:05 pm 4:05 pm

    Foi uma grata surpresa encontrar em Pirenópolis, o proprietário do Pouso Café e Cultura, Isócrates Oliveira, um apaixonado pela cultura e história da cidade! Fiquei fascinada pela maravilhosa biblioteca, e também pela casa histórica que pertenceu a sua bisavô. Lá no lindo quintal estão os chalés impecáveis e com todo conforto. Conversamos bastante tempo, e fiquei impressionada com a sua erudição e cultura. Acho que ficaria o dia todo, ouvindo tudo que ele tem a falar sobre a cidade de Pirenópolis, e da história de forma geral.Lamentei bastante já estar hospedada em outro lugar, e já regressando á Brasília, Porque se soubesse dessa pousada antes teria ficado lá sem dúvida. Nã proxima vez irei para lá, com o maior prazer.

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    • domingo, 29 janeiro, 2012 @ 11:15 pm 11:15 pm

      Maria Célia,

      Foi exatamente o que aconteceu comigo. Estivemos pouco tempo juntos, mas ficaria dias de papo com Isócrates.
      Como escrevi acima, está no fim do texto, agora já tenho meu porto seguro em Pirenópolis.

      Grato pelo comentário e bons ventos sempre,

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  5. mara permalink
    terça-feira, 6 março, 2012 @ 8:21 pm 8:21 pm

    Gostaria de me hospedar, seria possível

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