A viagem meteórica do Caroll
Quando o baiano, lá de Juazeiro, Raimundo Nascimento viu o projeto do Explorer 39 na prancheta do escritório de Roberto “Cabinho” Barros , no Rio de Janeiro, foi amor a primeira vista. Era tudo o que ele precisava para realizar um projeto de mais de 20 anos: um veleiro de 12 metros, de quilha retrátil, pensado para navegações em solitário. Daí para a construção no Estaleiro Estrutural, de Marcos Toledo, em Cabo Frio, foi um pulo. Em 2010 o Caroll foi entregue tinindo de novo e equipado para a tão sonhada empreitada.
Raimundo soltou as amarras do Caroll no Iate Clube do Rio, em 23 de abril de 2011. Nas despedidas estavam o Thadeu, do veleiro Aya, e Ricardinho, do Seachegue, coincidentemente ambos projetados por Cabinho. Agora, enquanto digito este post, o barco já está em Port Elisabeth, na África do Sul. Conversei por telefone com o marinheiro Raimundo, que está em São Paulo e volta pra África no próximo dia 20 para retomar a jornada.
O plano, se “O Criador” assim o permitir, é só fazer escala em Cape Town para depois fechar o círculo no Rio. Quando Raimundo terminar sua epopéia, note que “é um projeto em andamento”, com 62 anos, ele será o mais velho lobo do mar brasileiro a completar uma circum-navegação em solitário. E em apenas 11 meses! Será um recorde.
Mesmo numa viagem meteórica como esta, passou pela quilha do Caroll quase a mesma quantidade d´água que molhou o Vagabundo, do navegador boa-praça Hélio Setti Junior, que junto com os livros do também baiano solitário Aleixo Belov e do Cabinho, são leituras obrigatórias a bordo. Água salgada e muitas moções passaram pelo coração do comandante. Como a chegada em Nuku Hiva, nas Marquesas, depois de 31 dias solitários no mar. Ou a comemoração do seu aniversário de 62 anos em Cocos Keeling, um dos territórios da Austrália – “na realidade um atol de corais recoberto de coqueiros”. Ou ainda a tentativa de abordagem por mascarados, a 120 milhas do través da Ilha de Suman, na Indonésia. Um sufoco! A sorte é que o Caroll, navegando a 10 nós com velas e motor na rotação máxima, foi mais rápido que o decrépito pesqueiro atulhado de “pescadores oportunistas”.
A experiência náutica de Raimundo vem desde 1979, quando prestou exame para arraes amador. Das viagens longas, ele participou da edição de 2003 da Eldorado Brasílis Vitória – Trindade, a única regata realmente offshore em águas tupiniquins, e no ano seguinte fez a Refeno, no Delta 36 também chamado de Caroll, quando fez em solitário do Cabanga Iate Clube a Salvador. Cedo ele descobriu que esta seria sua sina: a esposa Solange costuma enjoar, mesmo em trechos curtos como de Ilhabela a Angra.
Mas fale um pouco sobre o Caroll? Clica aí para saber mais.
“O barco foi muito bem projetado e construído, o casco é em laminado moldado até a linha d´água, o resto é em sanduiche de CoreCell [até a mobília! – grifo meu]. Mas o Caroll não é um barco leve: das 10 toneladas de deslocamento, uns 3700 quilos vão no lastro e na quilha retrátil, um achado para navegar em águas rasas”, me respondeu um empolgado Raimundo, pra completar: “nossa média tem sido de 6 nós e fiquei impressionado com o comportamento do barco na capa, com ventos de 40 nós, manobra que realizei pela primeira vez na vida”.
Na mesa de navegação, entre outros equipamentos, o Caroll leva um rádio de longo alcance SSB e telefone por satélite, mais um radar de ultima geração que junto com o hoje indispensável AIS – mesmo passivo, que não transmite a posição –, permite o comandante dormir, em mar aberto, “por quatro horas seguidas”. Só aqui entre nós, Raimundo me confessou que já chegou a dormir por seis longas horas! Só não colocou o pijama, ficou de roupa de tempo, pronto pra qualquer coisa.
Pra finalizar nosso longo bate-papo (obrigado, TIM, pela graça alcançada a R$ 0,25 – mentirinha, foi ele que me ligou), Raimundo ainda frisou que “o verdadeiro herói da travessia em solitário é Aleixo Belov, que navegou na base do sextante. Eu até pensei em parar na escala que ele fez numa ilha na Barreira de Coral, mas como não estava cansado e controlava bem o rumo do barco com os instrumentos a bordo, achei mais perigoso ancorar do que continuar”.
Esta e muitas outras passagens o Raimundo vai contar num livro, que já está escrevendo e que terá toda a renda revertida para uma instituição que cuide de crianças em tratamento de câncer. Enquanto o livro não sai, você tem uma palhinha no blog do Caroll, lá no portal veleiro.net.
Atualizado em 3/mar/2012: o marinheiro Raimundo chegou ao Iate Clube do Rio, em 28 de fevereiro exatamente às 12h12. No sábado, 3 de março, fechou o círculo ao amarrar o Caroll à sua poita em Ilhabela. A volta ao mundo de Raimundo culminou em duas marcas históricas: além de se tornar o brasileiro mais velho a circum-navegar o globo em solitário, ele o fez em tempo recorde – menos de 11 meses!
Às vezes penso como seria o mundo nautico no Brasil sem o Cabinho.
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Rui,
Bingo, acertou na mosca. Cabinho é figura impoluta na náutica brasileira. Sem ele não existiriam Sindicatos Ajuricabas, MaraCatus e muitos barcos de estaleiros, como o Rio 20, o Atol 23 e tantos outros.
Bons ventos sempre,
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Grande Marinheiro Raimundo, muito amigo de meu pai José Carlos Freitas de Buritama. http://www.imoveisburitama.com.br
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Não é porque é meu pai não, mas o Raimundão é FODA!
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meeu padrinho é d + *-*
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Helio, vc acrescentou na sua lista de links nosso site Associação Náutica de Vela e Motor do Vale do São Francisco)……… favor atualizar para >>>TIMONEIROS – ASSOCIAÇÃO NÁUTICA DO VALE DO SÃO FRANCISCO – link é > http://www.ostimoneiros.blogspot.com/ da qual sou presidente e me orgulha que o Raimundo Nascimento do Caroll é daqui de Juazeiro vizinha a minha cidade Petrolina onde velejamos no Rio São Francisco e Lago de Sobradinho com nossos humildes veleiros embalados pelo som do nosso conterraneo Geraldo Azevedo que diz: “de todo lado é bonito, são dois estados de espirito, no meio fico, nao nego, navego no Velho Chico”… Abçs bons ventos de Avelar Amador
PS – Fale-nos mais sobre o Raimundo e sua ligação com Juazeiro BA…
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“…de todo lado é bonito, são dois estados de espírito, no meio fico, não nego, navego, navego no Velho Chico…”
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Avelar Amador,
Seu desejo é uma ordem. O nome da associação foi devidamente alterado, meu presidente.
Não sabia que Geraldinho era de Petrolina. Este blog também é cultura.
Em minha próxima visita ao Velho Chico – conheci Piaçabuçu, Piranhas, Penedo e Paulo Afonso – espero ser convidado pra velejar com os associados. Eu aviso com antecedência.
Bons ventos sempre,
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Timoneiros agradece pela atenção. Desde já fica o convite para velejarmos num Fox 23 recém chegado na região onde iremos até ilhas do Velho Chico degustar um piau na brasa com deliciosos vinhos e espumantes de nossas vinícolas as quais poderemos visitar de carro ou a vela. Acesse link
http://umpaulistaempetrolina.blogspot.com/2011/08/tourist-information-25-vapor-do-vinho.html
que tem um pouco disso tudo… abç
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Avelar,
To dentro. Com piau e tudo!
E com o vapor do vinho também.
Bons ventos sempre,
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Helio, aqui fala Iure, associado aos Timoneiros – Petrolina/Juazeiro. Bom vc vir para cá num dos nossos Cruzeiros Petrolina/Sobradinho. Um belo passeio que fazemos em 03 dias regado a muito peixe e ventos de 20 nós…
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José,
Grato pelo comentário, apareça sempre que vira e mexe tem novidades aqui.
Roberta,
Isso são modos menina?
Se bem que concordo contigo: teu pai é mesmo fodão (com todo o respeito).
Vitor,
Teu padrinho é d+ e digo mais, ele também é dez.
Vida longa para o Marinheiro Raimundo e bons ventos procês, sempre
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Iure Pedroza,
Então está combinado, aparecerei num dos Cruzeiros Petrolina/Sobradinho.
Deixe reservado os ventos de 20 nós já que os peixes pegamos pelo caminho.
Eu aviso antes de ir.
Grato pelo comentário e bons ventos sempre,
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velejar e tudo de bom, meu sonho é conhecer a ilha de TRISTAO DA CUNHA.
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