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Fraternidade – O Teste

sábado, 1 agosto, 2009 @ 12:54 am

Fraternidade em Noronha - Foto © Hélio Viana

Para quem chegou aqui agora, Aleixo Belov fez um pequeno cruzeiro com a família, de Salvador até Fernando de Noronha, e nos estávamos a bordo. Foi uma viagem de testes, e que teste!

O pilot house parece de um navio - Foto © Hélio Viana O veleiro escola Fraternidade é uma máquina de viagens, muito fácil de ser tocado. É um barco pensado nos mínimos detalhes, confortável e superbem equipado. A casa de comando, ou pilot house, mais parece a de um navio com o leme interno hidráulico, uma mesa de navegação a bombordo e uma cartoteca com espaço suficiente para armazenar cartas náuticas de todo o mundo. Por boreste tem um beliche para o 2º tripulante no turno e o outro fica em pé, pois não existe cadeira de comando. Os equipamentos de navegação são da Simrad e todos os sistemas são duplicados e conectados em rede: piloto automático hidráulico, radar, chart ploter, indicador de vento, radio VHF, computador industrial e notebook. Para comunicação o barco conta com telefone por satélite, radio de longo alcance SSB e modem PACTOR III, que permite trocar e-mail pelo SSB. A novidade para mim foi usar o AIS – um sistema automático de rastreamento de navios visando a segurança da navegação -, e uma bússola da Furuno que, acoplada a três GPS, informa com precisão o norte verdadeiro.

Com a quilha toda pra baixo o Fraternidade fica “plantado” na água e pouco aderna. Também, com uma boca máxima de 6.70m (envergadura de catamarã!), cinco metros de calado (sem quilha cai para dois metros) e três toneladas de chapas de aço carbono recheadas com 10 toneladas de chumbo na quilha retrátil, como adernar? Muito engenhoso é o sistema de cremalheira que evita o abaixamento acidental – o pesadelo de quem tem um barco com quilha escamoteável.

Orçando no rumo de Noronha - Foto © Hélio Viana Pegando onda na comodidade do pilot house - Foto © Hélio Viana

O casco de 70 pés (21.50m) é em aço carbono e o convés é todo em aço inox 304. O barco é armado em ketch com dois enroladores na proa, o que diminui o tamanho individual das velas e facilita as manobras. A mastreação foi calculada na Nova Zelândia e feita pela SparCraft na África  do Sul. O mastro de vante mede 22 metros, possui três pares de A escadaria para o céu - Foto © Hélio Vianacruzetas enormes e dois estais volantes. O brandal que desce do topo do mastro, de aço inox de 26mm, é ancorado muito perto da borda o que dificulta caçar a genoa na orça. Questão de escolha: a segurança da mastreação em primeiro lugar. Mas mesmo assim conseguimos orçar, enrolando um pouco a genoa, a 45º em relação ao vento aparente.

Na viagem a Noronha a vela grande ficou a maior parte do tempo no 1º rizo. Aproveitamos o maior dos vários pirajás, quando o vento acelerou até os 37 nós, para rizar a mezena, instalar o estai volante e abrir a vela de temporal, que por ser muito pequena ficou pouco tempo no ar. Das 20 catracas a bordo, exceto as duas elétricas, usamos todas. Nossa media geral foi 6.5 nós, baixa para um barco deste porte, mas tenho certeza que o Fraternidade pode render muito mais.

Uma parte das 20 catracas - Foto © Hélio Viana Tem um ditado que diz que no mar, quem tem um não tem nenhum. Pois quem tem dois pode ficar sem nenhum. O damper, um disco acoplado à polia do motor, que serve para balanceá-lo em altas rotações, folgou e não pegava mais aperto. E isto nos dois motores! Sem muito estresse, ancoramos em Noronha à vela e lá, na calma do porto, se achou a solução: nada que uma dúzia de arruelas não resolvesse o problema.

Para quem gosta de números

O Fraternidade deve pesar carregado perto de 70 toneladas (só de madeira para o interior foram usadas 10 toneladas), carrega em seu bojo 9000 litros de água (não tem dessalinizador) e 8000 litros de diesel para alimentar os dois motores Yanmar 4JH3 turbo de 125 HP, o gerador de 8KVA e o aquecedor central. O alternador de cada motor tem 120A e foram instalados mais dois de 150A de 24V, além de seis painéis solares totalizando 800W, quatro carregadores de bateria e dois geradores eólicos para carregar as 19 baterias de 150A. Acopladas às polias dos motores estão duas bombas hidráulicas que sobem e descem a quilha e o guincho da âncora que, sem corrente, pesa só 150Kg.

4 Comentários leave one →
  1. surya_ji permalink
    segunda-feira, 15 fevereiro, 2010 @ 5:18 pm 5:18 pm

    Não sei nadar, tenho muito medo do mar, mais gostaria muito de
    estar com voces, nesta viagem unica e inesquecivel, minha relação
    com o mar é de muito medo, mais ao mesmo tempo de muito amor, amo o mar, tenho maior respeito, e o considero como uma majestade e nós somos
    os súditos.

    Boa Viagem ao mestre Aleixo e seus discipulos.

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  2. Miguel permalink
    segunda-feira, 24 maio, 2010 @ 1:08 pm 1:08 pm

    Vocês sabem do Fraternidade?

    Estava a acompanhar na net os videos e pararam de enviar!

    Abraço

    Miguel

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  3. sábado, 13 novembro, 2010 @ 5:09 pm 5:09 pm

    Suria,

    Eu também tenho o maior respeito ao mar, não sei nadar e também tenho medo,como você. Mas isto não me impede de estar no mar. Isso aqui é bom de mais! Vou fazer com que Aleixo saiba de seu cometário.

    Miguel,

    Aleixo continua em sua (dele!) volta ao mundo.

    Clique aqui para a série de posts sobre Aleixo e o veleiro-escola Fraternidade:
    https://maracatublog.wordpress.com/?s=veleiro+escola+fraternidade.

    Bons ventos pros dois, sempre

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  4. Sniper permalink
    quinta-feira, 16 dezembro, 2010 @ 2:37 pm 2:37 pm

    Grande senhor, este Aleixo Belov! Graças aos seus livros (sobretudo o primeiro: “a volta ao mundo em solitário”), ajudou a mudar a minha maneira de encarar a vida! Hoje, nos meus 23 anos, Angolano, com dupla nacionalidade Portuguesa e a viver no Reino Unido, decidi largar tudo (quando chegar a hora) e me atrever também pelos oceanos. Comecei a construir o meu próprio barco baseado num veleiro Multichine 31, enquanto ao mesmo tempo tiro a carteira de capitão amador, e quem sabe um dia, encontre aí numa destas marinas a pessoa que me levou a “perder a cabeça” e lhe possa falar da mudança radical que causou na minha forma de ver o mundo. Enquanto o barco não está pronto, alimento a fome com os relatos de Aleixo e a sua empreitada no Fraternidade.
    Bons ventos

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