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Fraternidade – de Panamá a Galápagos

sábado, 3 abril, 2010 @ 12:07 am

Aleixo e tripulação em Galápagos

Após quase dois meses de viagem, Aleixo Belov e sua trupe no veleiro-escola Fraternidade chegaram ao Panamá, em meados de março e, oito dias depois, desembarcaram nas ilhas Galápagos, o arquipélago formado por 58 ilhas, localizado a mil quilômetros a oeste da costa do Equador.

Como é do seu feitio, Aleixo, que partiu de Salvador no dia 16 de janeiro, só fez pequenas escalas em Natal, Granada, Panamá e Galápagos. Agora segue rumo a Polinésia Francesa, também no Oceano Pacífico.

Vale lembrar que o tripulante-cineasta Paulo Alcântara está publicando mini-programas, chamados Diário de Bordo, no blog do Portal Multimídia do IDERB.

Clica aí para o relato de Panamá a Galápagos.

Quando atravessei o Canal de Panamá e não consegui, por rádio, uma vaga na marina, segui direto para Taboga, uma ilha que fica bem em frente onde já estivera outras vezes e tinha boas recordações. Uma ilha pequena, com várias igrejas, ruas arrumadas e casas com jardins bem cuidados tendo no fundo umas montanhas que nos convidavam a dar bons passeios. Assim que ancorei, fui logo em terra com parte da tripulação, como sempre faço, para apresentar-lhes o lugar e matar saudades. Era um lugar bom, e tinha lanchas rápidas que iam e vinham de Panamá 2 vezes ao dia.

Depois de passear bastante voltamos a bordo. Tinha percebido que o mar estava todo encapelado, pois o vento entrara com força, logo do lado que menos interessava. Foi muito difícil içar o caíque a bordo com o balanço, e assim que conseguimos, percebi que a âncora tinha arrastado e a popa do Fraternidade estava para se chocar em um grande atuneiro. Virei o motor ligeiro e salvei a popa do barco. O vento aumentava sem parar, neste porto desabrigado para ventos de NE e fiquei sem saber o que fazer. Mais tarde fiquei sabendo que aqui o fundo marinho é de um cascalho compacto que nem sempre unha bem.

Vamos então para Galápagos, falei. Já tinha assumido o novo rumo, quando Ana Luiza lembrou do regulador de voltagem do gerador que fora comprado nos EEUU e que teria que ir buscar no Panamá, dentro de dois dias. Então olhei a carta náutica e resolvi dar a volta na ilha e parar a sotavento, numa área completamente deserta ao pé de uma alta montanha que subia abruptamente em direção ao céu.

Ficamos a sós, nós e a natureza. Ainda que preocupados, pois o vento podia mudar de novo no meio da noite e nos obrigar a mover de novo, passamos a desfrutar deste isolamento maravilhoso. Pescamos de mergulho, pegamos dois baldes de ostras grandes e muito gostosas, subimos o morro nos arrastando que nem repteis para vencer a diferença de nível, e depois de andar por dentro do mato chegar a cidade para comprar pão e passear. Jeferson ia na frente levando um cabo que amarrava nas arvores para ajudar na subida aos mais pesados. Terminei concluindo, que em vez de ficar no prejuízo devido ao vento, fiquei foi no lucro.

Conheci um sul africano chamado Dylan que daqui fazia reparo de velas para clientes da cidade do Panamá. Como ele iria entregar velas, fui com ele e descobri onde tinha vaga, na marina Plaitas de Amador, e assim que o vento cedeu levei o Fraternidade de volta a Cidade do Panamá. Recebi o regulador de voltagem, abasteci de água e diesel, lavei roupa, fiz boas compras e só então larguei para Galápagos. Dylan me contou muito sobre esta ilha de 400 habitantes que já teve 4000 tempos atrás, quando antes de terem construído o canal já funcionava o transbordo, de um oceano para outro, com um trem puxado a burro. Naquela época, Toboga era uma ilha próspera, cheia de estaleiros para construir ou dar manutenção nas caravelas que traziam as cargas. Dylan deixou a África do Sul com 10 anos, em 1980, com os pais, num barco a vela, no mesmo ano que saí para dar a primeira volta ao mundo. Rodou a Europa, Estados Unidos, Canadá, Costa Rica e agora o Panamá, e aos 40 anos diz que ainda não encontrou o seu lugar na face da terra. Deixar o lugar onde nasceu, tem gente que não sabe, mas dá muito problema.

No dia 14 de março, faltando poucos dias para completar 2 meses que sai de Salvador, deixei o Panamá, navegando com a turma no Oceano Pacífico, com destino a Galápagos. Já sabia que este trecho era marcado pela falta de vento, e desta vez não foi diferente. Em anos anteriores cheguei a levar até 14 dias para chegar. Mas, desta vez com tanques de diesel maiores, motorei bem mais e cheguei em oito dias.

A turma ficou vibrando desde a chegada a esta ilha muito original. Águas limpíssimas, muitas aves marinhas de biqueiros a pelicanos, lobos marinhos no mar, nas praias e até mesmo nas praças ou deitados nos bancos dos jardins. Aluguei um carro grande e fomos todos dar uma volta completa na ilha, visitamos a cratera do vulcão que hoje é um lago enfiado dentro das nuvens, a criação de Galápagos, tartarugas que passam de 100 kg e podem viver mais de 100 dias sem beber água, razão por que os piratas e baleeiros as embarcavam vivas, para ter carne fresca a bordo sem ter que alimentá-las. Ficamos ancorados em San Cristobal, mas a turma que não conhecia Santa Cruz foi para lá de lancha e passou 2 dias. Na volta, abastecemos de água e óleo, fizemos compras, preparamos tudo, e amanhã, dia 30 de março, devemos zarpar bem cedo com destino as Marquisas, na Polinésia Francesa. Vai ser mais um marco para esta turma jovem, atravessar a parte deserta do Oceano Pacífico que tem 3100 milhas sem escala. Tudo isto é muito bom, mas falta chegar lá.

Clique aqui para os outros posts sobre Aleixo e o veleiro-escola Fraternidade.

3 Comentários leave one →
  1. domingo, 4 abril, 2010 @ 11:42 am 11:42 am

    Caro Aleixo e Tripulaçao,

    Tudo bem?
    Que bom ver voce com sua tripulaçao realizando o seu sonho que estava acalentado por muitos anos. Nao é?
    Continue escrevendo e levando a todos nós as esperiencias da vida no mar. Ela nos dá conhecimento e a vida no mar nos dá energia e uma vontade imensa de se largar em uma nova viagem pelo mundo.
    Estamos em Ushuaia.
    Aleixo, como está a performance do Fraternidade?
    Estou para iniciar a construçao de um novo veleiro e gostei muito do Fraternidade.
    O deck voce fez todo de aço inox 316-L?
    O casco voce chegou a galvanizar a fogo?
    Meus parabéns pela fotos.
    Um grande abraço a todos voces

    .
    Vilfredo

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  2. Luis Manuel permalink
    quarta-feira, 7 abril, 2010 @ 7:27 pm 7:27 pm

    Vilfredo,

    Querendo saber detalhes sobre o projeto você pode entrar no site do escritório Roberto Barros Yacht Design – B&G Yacht Design, http://www.yachtdesign.com.br, e olhar o projeto do Polar 65.

    Eles agora está desenvolvido para corte CNC, o que deve economizar bastante na construção.

    Um abraço,
    Luis Manuel
    Green Nomad

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  3. segunda-feira, 14 junho, 2010 @ 7:48 am 7:48 am

    Aleixo, parabens pelas novas travessias.
    Temos uma copia da sua mensagem escrita em San Cristobal, na agenda do agente que te serviu durante uma das suas estadas lá, que espero poder te entregar quando o Fraternidade passar pelo Matajusi a caminho de volta para o Brasil.
    Estamos em Fiji, saindo para Vanuatu (Junho/2010).
    Forte abraço e bons ventos,
    Silvio e Lilian, Matajusi

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