Nômades da água

Somos uma família nômade. Recebemos (eu e Mara) um presente do velejador baiano Aleixo Belov, que está dando a sua 4ª volta ao mundo: vamos fazer parte da tripulação do veleiro-escola Fraternidade, que está no Mar Vermelho seguindo para Odessa, na Ucrânia, no Mar Negro.

Dessa vez, tenho a impressão que estamos embarcando numa das mais difíceis viagens que já fizemos em nossa vida náutica. Pra se ter uma ideia, nem sabemos quando voltamos! O convite veio quando Aleixo estava em Mumbai, mas infelizmente (ou seria felizmente?) nosso passaporte estava vencendo e não conseguiríamos visto para a Índia. Depois de alguns e-mails e ligações via Iridium, ficou combinado de embarcarmos em Áden, no Iêmen, perto do dia 24 de fevereiro. No way, com a confusão na área não estavam permitindo turistas no país.

Enquanto isso corremos para tirar um novo passaporte (conseguimos em Volta Redonda, no Rio só se agendava para 60 dias depois) e o velho lobo do mar, que já tinha dado mais de meia volta ao mundo, teve que fazer o Golfo de Áden com tripulação reduzida numa área infestada por piratas.

Os mais próximos ficaram com os cabelos em pé quando souberam que iríamos para uma parte do globo em ebulição, com guerras ali na esquina. Mas o que seria da vida se não nos arriscássemos? É uma oportunidade única: navegar em mares nunca antes navegados é bom para exercitar os instintos e conhecer alguns lugares que nunca imaginamos colocar os pés ou molhar as canelas, como diz o reclame do cartão de credito, não tem preço.

Agora imagine tirar um visto para um país árabe, só com passagem de ida e sem reserva em hotel? Aí a santa desatadora de nós Lygia, a esposa de Aleixo, entrou em cena e providenciou tudo. No domingo à tarde embarcaremos para São Paulo para pegar um vôo para Istambul (a antiga Constantinopla), onde faremos conexão para a África, aonde compraremos mais uma passagem e depois de quatro aviões e um pequeno trecho de carro chegaremos ao nosso destino final. Ufa!

Oncovô? Vai que os Somalis usam internet, então vou falar em código: do país onde vou embarcar no Fraternidade, só sei que no Sul dão e no porto eu brindo com sua Skin – não da nova, da Old sua Skin. Sacou?

O Google Maps me diz que no caminho até Odessa tem o Egito, o Canal de Suez, Chipre, Grécia, o estreito de Dardanelos, o Mar de Mármara e o estreito de Bósforo. Vamos ver onde serão as escalas, mas fique ligado, assim que puder eu mando mais notícias.

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